O Programa Urbano (PU) realizou, nesta sexta-feira (27/08), na Câmara Municipal de São Paulo, o Encontro Mídia e Moradia, com a presença de cerca de 150 pessoas. Participaram do evento representantes da Apoio, do CCJ e do MDF, moradores do centro e de favelas das zonas sul e leste de São Paulo, ONG e blogueiros.
A mesa de debates foi composta pelo consultor local de CAFOD para o projeto com União Europeia, Marcos José Pereira da Silva, pela coordenadora do MDF, Sueli de Fátima, pelo presidente da Apoio, Manoel Del Rio, pela coordenadora do CCJ, Andrea Aparecida dos Santos, pelo presidente da CMP (Central de Movimentos Populares), Raimundo Bonfim, pelo Argemiro, da ONG Rede Rua, por Ruth Alexandre, blogueira e editora do site Falapovo.com. Os trabalhos foram coordenados pelo jornalista da Central de Notícias, José Maria Moreira.
O encontro, que faz parte das ações do Programa Urbano, tinha como objetivo aborda a cobertura da mídia sobre os movimentos sociais, especialmente, os de moradia, foco de ação da Apoio, do CCJ e do MDF. Os representantes das entidades de moradia foram os primeiros a falarem, seguidos do presidente da CMP, da ONG Rede Rua, e da editora do site Falapovo.com. Após as os esclarecimentos e análises, o jornalista José Maria Moreira abordou a situação dos principais veículos de comunicação do país, que a cada dia perdem espaço junto aos leitores e vivem o dilema de terem de se reinventar frente à concorrência das novas mídias.
De acordo com Sueli de Fátima, do Movimento de Defesa do Favelado, o evento cumpriu com o objetivo e ampliou a discussão das novas mídias como alternativa à atuação dos movimentos sociais. “Hoje o cidadão não precisa ser especialista para manifestar seu pensamento nem depende deste ou daquele veículo de mídia. Ele é o protagonista e a voz de sua ação. Não necessita de interlocutor para disseminar seus pensamentos e lutas. Esclarecemos como os movimentos devem se portar frente às novas tecnologias, como a internet, blogs e redes sociais”, afirmou Sueli.
Na avaliação do presidente da Apoio, Manoel Del Rio, os movimentos de moradia conseguem espaço nos jornais, revistas, rádio e televisão quando param a Avenida Paulista ou enfrentam a Tropa de Choque, da Polícia Militar, para impedir o despejo de famílias. “Os blogues, o Twitter, o Orkut e o Facebook são os nossos novos meios de comunicação. São as armas para o confronto contra as elites, que, a cada avanço tecnológico, vê seu espaço e importância diminuírem. Mas estamos apenas no início da luta. A diferença é que temos como dar vazão ao nosso movimento. Eles podem nos ignorar, mas nunca nos calar. Com as redes sociais temos voz!”, disse Del Rio.
A coordenadora do Centro de Capacitação da Juventude (CCJ), Andrea Aparecida dos Santos, avaliou o papel dos jovens nesse processo de disseminação de conhecimento e de livre manifestação do pensamento. “Os jovens são os nossos novos interlocutores. Computador e internet para eles são coisas corriqueiras, de fácil manuseio e operação. A partir de sua mobilização temos uma série de formas de expressão de sentimentos, expectativas e manifestações.”
O presidente da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, disse que espaço para divulgação nos meios de comunicação tradicionais só quando se “mete o pé na porta, quando se vai para o confronto”. “A mídia burguesa não tem interesse nas causas sociais, ela não está aí para fazer filantropia. Por isso, precisamos de uma articulação conjunta dos movimentos sociais. Deveríamos pensar em uma assessoria de comunicação comum às entidades. Com isso, teríamos condições de profissionalizar a nossa comunicação e diluiremos os custos para o movimento.”
Para o representante da Rede Rua, Argemiro, o principal objetivo de sua organização não governamental é comunicar, educar e articular cidadania. “Criamos a Rede Rua para dar espaço de manifestação à pessoa que sequer tem onde morar, à pessoa que está na rua. Precisamos fazer com que se insiram na comunidade, que sejam cidadãos. E o primeiro passo para isso é darmos espaço para exposição de suas necessidades e manifestações de pensamento e artísticas.”
A editora do site Falapovo.com, Ruth Alexandre, e blogueira alertou as entidades de moradia para saberem quem procurar nos veículos de comunicação ao tentar espaço para suas demandas e reivindicações. “Os jornalistas recebem centenas de informações diárias. Precisamos capturá-los com a notícia. O foco principal do que pretendemos divulgar. Mas esse é apenas um aspecto dessa imensa discussão envolvendo as mídias porque não cabe ao repórter decidir o que será ou não publicado. Quem faz isso são os editores e diretores de redação. E as notícias obedecem à lógica do mercado, porque, antes de qualquer coisa, elas são empresas. Vivem em função dos lucros e não das demandas sociais.”
O Encontro Mídia e Moradia foi encerrado com uma homenagem à personagem da foto que está na capa do convite do evento, elaborado pela Central de Notícias, dona Geralda, da ocupação do Alto Alegre, que estava na plateia. “Fizemos um grande encerramento e imensa homenagem para uma pessoa que simboliza as nossas reivindicações e as nossas esperanças. Como na foto do convite, a dona Geralda chorou, mas a diferença é que seu choro hoje foi de alegria pelo reconhecimento de sua luta. A foto é impactante, ela em lágrimas, com a mão no rosto, de costas para a área, onde antes havia moradias, devastada”, disse José Maria.
“Eu não esperava por isso. Estou muito contente com a homenagem. E com a nossa luta por melhores condições de moradia, para que nunca mais tenhamos de ser despejados de nossos lares”, conta dona Geralda, da ocupação do Alto Alegre.
Depois do encerramento, o projeto Pão e Arte serviu lanche aos participantes do Encontro de Mídia e Moradia. (www.programaurbano.com.br)
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