quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Internet a favor da democracia brasileira

Na web, há diversas experiências novas que possibilitam uma maior participação política dos usuários da Rede
Charles Cadé, especialista em redes sociais,
aponta uso equivocado de ferramentas digitais
pelos políticos  BRUNO GOMES

A internet oferece um mundo de oportunidades que vai além do aspecto da comunicação entre candidatos e eleitores. Na web, o cidadão tem à sua disposição uma série de plataformas através das quais o debate político se aprofunda e se torna até mais interessante. A afirmação é do jornalista Charles Cadé consultor e especialista em redes sociais na Internet.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, ele revelou que há muitas possibilidades para o eleitor definir seu voto adquirindo e postando informações na grande rede para além de twitter, orkut, facebook e flicker, que são ferramentas mais difundidas, atualmente. Como a utilização do mundo virtual por meio de redes sociais ainda é recente, avalia, ainda há muito o que se estudar.

Segundo ele, houve no Brasil um "frisson" entre especialistas e usuários da internet desde 2009 sobre o impacto do uso das redes sociais da internet nesta campanha eleitoral, baseado no sucesso da mobilização da candidatura do presidente dos Estados Unidos, Barack Hussain Obama, por meio das redes. "Esse burburinho inicial acabou não se transformando verdadeiramente, em uma atividade ampla nestes novos meios", afirma.

O que houve foi uma inobservância por parte dos especialistas aos demais aspectos que levaram Obama à vitória, afora a ocupação de espaços virtuais. A observação que fez neste sentido, foi para enfatizar que a internet sozinha, mesmo que bem usada, não basta para a vitória em uma eleição, o que por si só já derruba muitos mitos e máximas difundidas sobre as novas ferramentas digitais.

Equívocos

Um dos problemas frequentes no uso das novas mídias na política, de acordo com o especialista, é o uso equivocado das ferramentas, por falta de compreensão das mesmas. "É o analógico usando o digital. Não dá certo", aponta. E cita um exemplo curioso desta realidade, embora não diretamente ligado à eleição.

O Blog do Planalto (http://blog.planalto.gov.br), criado para ser um meio de divulgar informações pelo presidente da República, não dá espaço para comentários dos leitores. É apenas um mero informativo. No entanto, como foi criado sob uma plataforma que permite o uso das informações por qualquer pessoa, ou seja, com direitos autorais flexíveis, algum internauta copia os conteúdos da página e cola em outro blog no qual as pessoas podem comentar da maneira que quiserem. "E quem fez isso não está cometendo nenhum crime", informa.

"Tem que haver uma compreensão sobre o meio. Na internet não tem como você controlar as informações. Você pode até influenciá-la, mas controlar só se for em regimes como o chinês", argumenta, para demonstrar que o uso das plataformas ainda é feito de forma equivocada por alguns usuários.

Desafios

Charles Cadé aponta que há dois desafios básicos, no que se refere ao engajamento político no País, por meio da internet: aprofundar a navegação para além do aspecto da comunicação entre as pessoas e fazer com que a discussão política travada nos períodos eleitorais seja feita permanentemente, com ou sem candidatos postos.

"O cidadão não pode participar da democracia só de dois em dois anos, com o voto. Esse trabalho de engajamento deve ser diário. É realmente um grande desafio", avalia o especialista, deixando claro que os mecanismos democráticos de forma geral precisam ser ampliados e a internet funciona apenas como um meio a mais de mobilização.

Mesmo apontando alguns erros estratégicos na rede, Charles lembra que há, no Brasil, iniciativas positivas do uso de novas ferramentas de internet até mesmo nas gestões públicas do País. Os portais da transparência, o detalhamento dos orçamentos públicos e iniciativas como o Serviço de Atendimento ao Cidadão na internet (SAC) da prefeitura de São Paulo fazem parte deste arco de novas ferramentas positivas.

Participação

Entre as boas práticas, ele enumera ainda uma série de atividades desenvolvidas por sites, blogs e redes sociais que possibilitam o eleitor a ter uma participação ativa nestas eleições. O site eleitor2010.com é um dos espaços para que o cidadão se informe sobre os crimes eleitorais e relate o descumprimento da legislação eleitoral vigente.

"Tem sites que auxiliam a escolher o seu candidato. Você pode testar afinidades suas com os candidatos que estão disputando", disse, referindo-se à página eletrônica ´Extrato Parlamentar´ disponível em: www.votoaberto.com.br/extratoparlamentar.

Outra iniciativa é a página Vote na Web (www.votenaweb) que disponibiliza os projetos apresentados pelos parlamentares do Congresso Nacional para que os internautas deem sua opinião sobre eles. Lá, assim como no plenário das Casas, o cidadão pode ser contra (votando não) e a favor (votando sim).

Charles aponta outra iniciativa positiva: ´Adote um Vereador´, criado em São Paulo. A ideia é o usuário acompanhar o mandato do parlamentar e postar, em uma plataforma tipo enciclopédia virtual, todas as ações referentes ao mandato do vereador da Capital.

MAIS INFORMAÇÕES:
Por meio do endereço http://meadiciona.com/charlescade você tem acesso a todas as páginas virtuais do consultor entrevistado

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